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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O homem

O homem está lá todas as segundas-feiras, na praça, exortando os viventes que passam a se converter. Brada, vocifera, segurando a Bíblia aberta em uma das mãos. Tem a face vincada e faz sua preleção saltando de um lado a outro, os pés a sapatear sobre os mosaicos portugueses cobertos por merda de pombos.
As pessoas que transitam desviam do homem. Um que outro arrisca olhar em sua direção, mais por curiosidade. Talvez o vejam como alguém que incomoda. Ou um louco. A diferença é tênue. A maioria, entrementes, se encolhe, baixa a cabeça, atravessa ao largo, temendo, talvez, possa o homem enxergar em cada um os pecados e principie a enumerá-los publicamente.
Há também os que se familiarizaram com o homem, embora nada conheçam a seu respeito. Os aposentados, que passam o dia com os traseiros pregados nos bancos da praça, os engraxates, o sorveteiro, o funcionário da banca de livros espíritas. Nenhum deles têm uma informação precisa, não sabem se o homem é um pastor, um pagador de promessas, um santarrão, um extraterrestre. Apenas se habituaram com sua presença e com o timbre exaltado de sua voz.
O homem fecha a Bíblia, os pombos cagam, a mediocridade humana continua.

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