Amanhece novamente e o Sol irradia sua luminosidade ofuscante e crua nas ruas que descem por entre vales estreitos, bares e praças.
Um velho drogado tosse e cospe no esterco que as sombras deixaram em seu rastro. Talvez seja um domingo. Sempre se encontra um moribundo cuspindo e pigarreando num domingo.
Das casas pendem cortinas róseas e sujas, enquadrando, nas janelas, vultos gordos e amanhecidos. Uma velha simpática se precipita sobre o tanque e uma ibérica com um traseiro descomunal recolhe suas rendas do varal e canta comovida, com sua bocarra de réptil, uma ode qualquer.
O gari, ainda embriagado, reclama e maldiz sua vida e varre a sujeira, varre a vida, a sujeira e a vida e coça seu nariz remelento e pisa em sua própria condição nefasta e sorri com os dentes amarelados, um riso vazio.
Nas ruas centrais, ricas madames obesas e aerófagas cacarejam e mugem, sacolejando suas estrias em gargalhadas de lontra e as prostitutas sonolentas recolhem suas pernas para vendê-las logo mais, ao anoitecer.
Amanhece. As feras são soltas e os gritos se espalham entre buzinas e os carros. A vida sangra. O velho drogado lava suas mãos.
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Aposto que foi numa quarta de cinzas
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