Rita se foi.
Mantinha a face serena enquanto pranteada por amigos e conhecidos. Era benquista e conquistou lugar no coração de todos quantos a conheceram.
Trabalhou como funcionária doméstica na casa de meus pais por muito tempo, nem sei quanto exatamente. Talvez 25 ou 30 anos.
Acompanhou-me desde a infância à vida adulta. Possuidora de enorme criatividade, tinha grande talento inventivo para as brincadeiras. Quando via a criançada meio entediada, tratava logo de aprontar alguma para que todos se divertissem.
Jamais esqueço as férias, em sucessivos julhos, que passávamos na fazenda de meus avós. Rita nos punha a catar abóboras, desenhava com a faca caretas nos frutos e à noite, no terreiro, dispunha-as nas muretas com velas acesas em seu interior. Cenário perfeito para histórias de assombração.
Uma noite deparamo-nos com um sapo enorme. Rita perguntou se já tínhamos visto um bicho daqueles fumando. Diante da negativa, arrumou com um colono o cigarro e cuidadosamente botou na boca do sapo. Rita tinha dessas.
Esteve a nosso lado em horas felizes, em horas difíceis. Ajudou sobremaneira minha mãe, especialmente depois que ela foi vítima de uma isquemia cerebral que comprometeu parte dos movimentos.
Foi mais que uma funcionária; foi amiga, enfermeira e um pouco mãe também.
Transcendeu.
Transcendeu.
Abaixo, uma pequena homenagem póstuma. Uma das crônicas publicadas em meu livro Prosa Fiada, em que cito a Rita, que também era exímia cozinheira.
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