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terça-feira, 20 de abril de 2010

Histórias


Dois jovens caminham na calçada, nas proximidades do terminal rodoviário. Trajam vestimentas básicas, nada que os permita caracterizar como pertencentes a algum grupo profissional ou tribo.

Subo em direção oposta e, sem nenhum esforço, posso ouvir parte da conversa. Um deles, mais espadaúdo, diz ao interlocutor:

- Nossa, como eu gostava dela! Quando saia da roça, voltava para casa rapidinho...

A dupla saiu de meu raio de visão, mas as palavras do rapagão cravaram em meu espírito. Um desassossego invadiu-me de pronto. O sujeito relatava sua afeição pela companheira no pretérito e pus-me a imaginar o que, diacho, teria ocorrido com o casal. Expirara o amor ou a amada?

Pensei em fazer meia volta e interpelar o tipo, saber a causa e o desfecho da trama. Não por bisbilhotice pura, mas porque senti que poderia haver lá uma boa história. Um romance rural interrompido sabe-se lá por qual razão, mas que deixara marcas indeléveis naquele vivente, com tanta força que precisou relatar ao outro.

Não raro, dramas humanos cruzam meu caminho, com suas tristezas e alegrias. Gosto de retê-los, sempre pensando em aproveitá-los em um conto, uma crônica.

Ontem mesmo, enquanto voltava a casa à noite, depois da carga horária no jornal, um sujeito emparelhou comigo na calçada e disse com a voz pastosa:

- Doutor, se pego ela, mato. Por causa dela, tô com um câncer no estômago... Mato ela...

Apressado que estava, não dei pelota. Não posso negar, entretanto, que tive vontade de sacar o gravador e pedir ao infeliz que contasse tudo. Mas só prossegui no andar, desejando que o desditoso não levasse a cabo seu intento, o que, sem dúvida, seria outra história.

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