Passar as roupas a ferro é uma ação que exige do principiante mais que iniciativa: requer paciência monástica e alguns ansiolíticos.
De primeiro parece simples. É só esticar a peça na tábua de passar e deixar o ferro fazer o resto, com um impulsinho do braço. Empiricamente descobri que a coisa não é bem assim.
Um acidente doméstico da consorte levou-me à lavanderia, de forma a ajudar nos afazeres. Léa sofreu uma queda e fraturou o cotovelo esquerdo, que precisa ficar imobilizado três semanas. Achei mais que justo dar uma força, especialmente pelo fato de ter coincidido com minhas férias.
Em meu primeiro dia na lavanderia, consegui passar alguns lenços e guardanapos sem problema. Os lençóis me deixaram um pouco atrapalhado, com uma ponta de irritação a emergir e sombrear meu ânimo solidário e participativo.
No segundo dia, ao arriscar outras peças, foi um desastre. Queimei a capa de uma almofada, provoquei um furo em minha própria calça jeans, tostei a parte superior de uma camisa social e desliguei o ferro antes que sobreviesse coisa pior.
Fui desabafar com a Léa, meio choramingueiro, sob o argumento de que não tinha mesmo jeito para essas coisas, digamos assim, mais afeiçoadas ao cotidiano feminino. Sou de uma geração que ouviu dos pais que cozinha não era lugar de homem e outras máximas do gênero. Lavanderia, então, era um espaço que em minha infância e juventude só conhecia de longe, quando ia chamar a Rita para dar algum recado.
Mas Léa é persuasiva e argumentos eivados por machismo não costumam funcionar em casa, de forma que retornei a ação, mas minhas tentativas não foram muito frutíferas. Quando passava a parte interna da camisa, onde ficam os botões e as casas, amassava outra parte. Aquela região camisal que fica logo abaixo do colarinho é terrível.
Em vários momentos pensei em arremessar aquela instrumento contra a parede e sentar-me junto ao Otto, nosso cão, para derramar-me em lágrimas, mas me contive. Mangas e punhos também me tiraram do sério: deslizava o ferro dum lado e inadvertidamente vincava o outro.
Rendo-me. Passar roupa é uma verdadeira arte e nossas mães, tias, esposas, funcionárias merecem a mais alta consideração e respeito. Esse conjunto de conhecimentos adquiridos, historicamente acumulados, que as mulheres tentam transmitir a lorpas como eu, é uma ciência e seu domínio é para poucos.
De primeiro parece simples. É só esticar a peça na tábua de passar e deixar o ferro fazer o resto, com um impulsinho do braço. Empiricamente descobri que a coisa não é bem assim.
Um acidente doméstico da consorte levou-me à lavanderia, de forma a ajudar nos afazeres. Léa sofreu uma queda e fraturou o cotovelo esquerdo, que precisa ficar imobilizado três semanas. Achei mais que justo dar uma força, especialmente pelo fato de ter coincidido com minhas férias.
Em meu primeiro dia na lavanderia, consegui passar alguns lenços e guardanapos sem problema. Os lençóis me deixaram um pouco atrapalhado, com uma ponta de irritação a emergir e sombrear meu ânimo solidário e participativo.
No segundo dia, ao arriscar outras peças, foi um desastre. Queimei a capa de uma almofada, provoquei um furo em minha própria calça jeans, tostei a parte superior de uma camisa social e desliguei o ferro antes que sobreviesse coisa pior.
Fui desabafar com a Léa, meio choramingueiro, sob o argumento de que não tinha mesmo jeito para essas coisas, digamos assim, mais afeiçoadas ao cotidiano feminino. Sou de uma geração que ouviu dos pais que cozinha não era lugar de homem e outras máximas do gênero. Lavanderia, então, era um espaço que em minha infância e juventude só conhecia de longe, quando ia chamar a Rita para dar algum recado.
Mas Léa é persuasiva e argumentos eivados por machismo não costumam funcionar em casa, de forma que retornei a ação, mas minhas tentativas não foram muito frutíferas. Quando passava a parte interna da camisa, onde ficam os botões e as casas, amassava outra parte. Aquela região camisal que fica logo abaixo do colarinho é terrível.
Em vários momentos pensei em arremessar aquela instrumento contra a parede e sentar-me junto ao Otto, nosso cão, para derramar-me em lágrimas, mas me contive. Mangas e punhos também me tiraram do sério: deslizava o ferro dum lado e inadvertidamente vincava o outro.
Rendo-me. Passar roupa é uma verdadeira arte e nossas mães, tias, esposas, funcionárias merecem a mais alta consideração e respeito. Esse conjunto de conhecimentos adquiridos, historicamente acumulados, que as mulheres tentam transmitir a lorpas como eu, é uma ciência e seu domínio é para poucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário