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domingo, 27 de junho de 2010

Vuvuzela


Aquele misterioso instrumento de sopro chamado vuvuzela tem dado o que falar, quer pela experiência singular que provoca no canal auditivo, quer por seu próprio nome, que tem sonoridade típica, distante do comum, embora remeta imaginariamente a situações habituais.

A pronúncia do vocábulo principia a requerer que se faça bico com os lábios nas duas primeiras sílabas, o que por si só já é risível. Tudo bem, falamos vovô, que também exige o mesmo movimento, mas vuvu tem algo inexplicavelmente engraçado. Vuvuzela, então, nem se fala.

Caso não denominasse aquela corneta esquisita, cairia bem a uma peça mecânica, por exemplo, uma contraparente da biela.
"Olha, doutor, o motor está bom. Diferencial está em ordem, disco de embreagem também. O problema era a vuvuzela, mas eu já troquei."

Igualmente soaria familiar a um prato italiano, desses servidos em gostosas e movimentadas cantinas.
"A casa oferece conchiglioni, rondeli, ravioli, tortelone, canelone, capeleti, talharim à putanesca e talharim à vuvuzela."

Pode-se conceber, ademais, o emprego da palavra para descrever ações que comumente se desenrolam entre homem e mulher, seja na alcova ou no escurinho do cinema.
"Haroldo não se aguentava mais. O perfume natural que emanava da pele de Escolástica mexia tanto com seus instintos que alquebraram seu pudor. Passou a xumbregar a moçoila, passeando suas mãos até chegar à vuvuzela".

Em sítios na internet, consta que a origem do nome vuvuzela tem teorias distintas. Um deles, publicado na página eletrônica do diário inglês Mirror, diz que a alcunha vem de uma das línguas oficiais da África do Sul, o zulu, e se traduz por fazedor de barulho (vuvu). Outra versão traz que seu significado seria "celebrem, unam-se", também em zulu.

Em outra página, deparo com uma terceira acepção, a de que vuvuzela em Isizulu, uma das onze línguas faladas na África do Sul, significa “falo comprido para soprar”. A raiz vuvu- significa “soprar” ou “por a boca em algo” e o sufixo -zela denota “objeto comprido e oblongo”. Vai saber, né?

O fato é que aquela corneta de plástico, a senhora vuvuzela, se transformou em uma das maiores polêmicas desta Copa do Mundo e foi alvo de reclamações de jogadores, técnicos e jornalistas. Chegou-se a cogitar que fosse proibida dentro dos estádios, hipótese totalmente descartada por respeito às tradições culturais dos sul-africanos.

Viva a vuvuzela, mexe a vuvuzela, balança a vuvuzela, sacode a vuvuzela! Dá-lhe Brasil!

Frase

"O Brasileiro é o Português - dilatado pelo calor."

Eça de Queirós

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Copa do Mundo

Léa foi a primeira a me dizer: "essa Copa do Mundo está muito esquisita".
Frente à minha costumeira e aparvalhada expressão de indagação, respondeu sentir que a competição havia perdido parte de seu brilho. Nem mesmo os torcedores pareciam envolvidos como de hábito. Tudo muito chocho.

Verdade. O próprio tetracampeão Mário Jorge Lobo Zagallo, com a experiência de seis Copas do Mundo na cacunda, declarou não estar gostando do futebol exibido pelas seleções no Mundial da África do Sul. "O nível técnico está muito baixo. É uma das piores (Copas) da história, pelo menos, que eu tenha visto", disse.

É, está esquisita mesmo. Suíça vence a Espanha, Itália eliminada, Japão jogando bonito, Inglaterra, França e Alemanha decepcionando, Brasil é uma incógnita e por aí vai. O que conta, até agora, é a vuvuzela.

Não entendo muito de futebol. Procuro manter-me minimamente informado sobre alguns times por obrigação profissional, mas quando se trata de Copa do Mundo sempre acompanhei, sem fanatismo ou paixão futebolistica. O Mundial, para mim, está associado a alegria e confraternização.

A primeira Copa da qual me recordo foi a de 1970, disputada no México. Contava apenas seis anos e sou sincero em dizer que não ficou registrado em minha memória alguma partida em particular. O que marcou mesmo foi o entusiasmo, a vibração, a emoção de meu pai a cada gol, a cada vitória ou frente a uma jogada sensacional.

Não me recordo de nada mais gratificante, a uma criança daquela idade, que ver o pai vibrando, gritando o gol, festejando, soltando rojões. Em minha cabeça, a premissa era a seguinte: a Copa traz alegria ao pai, então é boa.

Quando a Seleção chegava à pequena área ou marcava algum gol, sequer perdia meu tempo em olhar para a tela de nossa velha Phillips, imagem em preto e branco. Meus olhos estavam ligados no pai, em como sua expressão passava de apreensiva a esfuziante, nos pulos de alegria que dava. Sua felicidade era meu júbilo.

As Copas que se sucederam não tiveram o mesmo sabor. À medida em que ganhava anos, saia da infância, foi faltando açúcar. A de 1974 ainda acompanhei na casa, ao lado do pai e da mãe. Nas demais, já estava naquela fase a qual chamamos adolescência, assistia na casa de amigos ou primos. A confraternização passou, então, a ser a estrela da competição. Os jogos eram motivos para churrasco, cerveja e carraspana.

O Mundial de 2006 testemunhei ao lado da Léa, assim como o atual. É bom vê-la vibrar. Faz lembrar a alegria do pai.

Para matar a saudade, o tema da Copa de 1970.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Apelidos


Hoje vi a Cobra Bonifácia. Estava saindo de uma agência bancária, enquanto eu aguardava na fila. Estudamos juntos durante o primário e, creio, parte do período ginasial. Tinha esse apelido por sobressair pela altura. Era garoto espichado, de ótimo gênio, mas criança não perdoa, logo trata de arrumar cognomes tirados de alguma particularidade e o menino alto virou Cobra Bonifácia, personagem de história em quadrinhos, publicada na década de 1970, se não me engano pela Revista Recreio.

Nessa época - como hoje - era raro algum estudante escapar sem um apelido, normalmente depreciativo. Não se empregava, ao menos no Brasil, o termo bullying, mas se tratava disso. Chamar repetida e intencionalmente alguém de balofo, zarolho, chicletão, pouca-sombra e uma infinidade de outros nomes, que passam pela fauna e flora brasileira, constituem, sim, violência psicológica, ainda que a molecada não atinasse para isso.

Um gordinho de pré-nome Rodrigo virou o Porcodrigo, um seu parelho de pré-nome Sebastião, o Porcobastian, uma garota afrodescendente transformou-se em Tiziu, um míope que usava óculos de grossas lentes, o Galo Cego, outro de largos quadris, o Bunda Big. Certamente nenhum deles apreciava as alcunhas desairosas e, por vezes, racistas.

Com a compleição física que a genética e Deus me deram, não fiquei incólume. Nanico, pintor de rodapé, entre outras designações empregadas para os verticalmente prejudicados me foram dirigidas às carradas. Outros apelidos foram circunstanciais.

Quando minha boca ainda era preenchida por dentição decidual, os chamados dentes-de-leite, aconteceu de certa tarde correr feito um mico na Praça da República, em Jaú, e como macaco que muito pula quer chumbo, espatifei-me no chão, quebrando boa parte dos incisivos centrais superiores, os dentes da frente. Devo ter ficado com a aparência de um roedor, pois o cognome que sobreveio foi Ratinho, que tive de suportar até que resolveram nascer os dentes permanentes.

Outro apelido circunstancial ocorreu por causa de meu finado pai. Enquanto datilografafa, com apenas os dois indicadores, em sua velha Remington, costumava emitir um som peculiar, gutural, parecido com um mugido. Amigos e primos que principiaram frequentar a casa paternal ficaram intrigados com aquele ruido. Tão logo souberam de que se tratava, passaram a zombetear. "Tem um boi aí?" Como invariavelmente saía em defesa do pai, foi a deixa. Virei Boi, Vaca e outros nomes relativos aos bovídeos.

Devo reconhecer que nem sempre figurei apenas como vítima. Fui autor de diversos apelidos dados a amigos e colegas de classe. Era nisso tudo em que pensava pouco depois de deparar com a Cobra Bonifácia, na agência. Os dois estamos ficando turdilhos, com fios brancos assomando as cabeças. Sorri internamente ao lembrar desses anos idos, fixei a vista em sua direção, a modos de cumprimentá-lo. Mas creio que ele não me viu. Ou preferiu não ver.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

José Saramago (1922 - 2010)


A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória,
em lembrança, em narrativa.
Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:

"Não há mais o que ver", saiba que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde, o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados,
para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem.
Sempre.


José Saramago

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Kinando e a vuvuzela

Também no Jahu Clube, o primo Joaquim Fernando Paes de Barros, o estimado Kinando, soprou com competência a vuvuzela, proporcionando sonoridade arrebatadora, semelhada a uma elefanta no cio.

Em ritmo de Copa do Mundo

Assistimos a estreia frouxa da Seleção contra a Coreia do Norte em telão na sede social do Jahu Clube, sucedida por apresentação do músico Dudu Galvão. A partida não trouxe emoção, mas de qualquer forma estar ali, no clube, foi divertido. Demos boas cornetadas com uma tal buzina do barulho, uma lata de buzina a gás aerossol, com uma corneta acoplada. Na foto, Léa, Maria Eugênia e a parente Esther.



terça-feira, 15 de junho de 2010

Cala boca Galvão

Leio em vários sites da internet que a expressão “CALA BOCA GALVÃO” , que ridiculariza o locutor Galvão Bueno, da Rede Globo, alcançou o primeiro lugar entre os temas mais comentados no Twitter em escala mundial.

Diante das dúvidas de usuários estrangeiros do Twitter, que indagavam "quem é Cala Boca Galvao", tuiteiros brasileiros resolveram incrementar e sofisticar a piada, explicando que "cala boca" significaria "salve - salvem", e que "galvão" seria uma espécie de ave em extinção.

Vejam só a criatividade dos brasileiros, clicando no link abaixo. Confesso que não consegui segurar o riso.

http://www.youtube.com/watch?v=bdTadK9p14A

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Outra frase

"A arte existe porque a vida, por si só, não basta"

Ferreira Gullar, poeta

terça-feira, 8 de junho de 2010

Frase

"A higiene não é só a regularização salutar das condições da vida física; nela devem também entrar os fatos da moralidade."

Eça de Queirós