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sexta-feira, 27 de março de 2009

O e-mail


O homem é conhecedor de todos os segredos da terra, das plantas e da lida com os animais. Administra sua fazenda com extrema competência, o que o destaca como empresário rural bem sucedido. Mas não costuma dar o braço a torcer quando desconhece determinado assunto que lhe foge a alçada. Informática é um deles. Não sabe sequer para que serve o mouse. Contudo, não passa recibo.

Recentemente teve de transmitir informações para algumas pessoas acerca de um evento com animais e, finda a conversa, o interlocutor ou interlocutora, não sei ao certo, indagou se ele possuía um e-mail. Embora não soubesse nem do que se tratava, não perdeu tempo em pensar. Respondeu de pronto, na lata:

- Tenho dois, mas esqueci em casa.

domingo, 22 de março de 2009

Informática


Creio que tenha sido no início da década de 90 que fiz meu primeiro contato imediato de 3º grau com um microcomputador. Foi na redação do jornal Comércio do Jahu, onde ainda redigíamos os textos jornalísticos em vetustas máquinas de escrever Lexington, Olivetti ou Remington.

Os micros assemelhavam a caixotões e tinham o monitor com fósforo verde, que depois de algum tempo cansavam sobremaneira os olhos. Nenhum dos repórteres teve aulas de informática: aprendemos a escrever naquelas coisas de forma empírica, na raça mesmo. Um digitador que trabalhava conosco dava algumas dicas sobre uma e outra tecla especial e cada um que anotasse como negritar uma palavra, como salvar o texto, como copiá-los para os disquetes.

A princípio, fui meio relutante. Tinha comigo que jamais aprenderia a trabalhar daquela forma, com tantos comandos, mas fui me adaptando aos solavancos e acabei tomando gosto pela coisa. Havia, claro, contratempos. Lembro-me de certa feita em que acabara de redigir todo o material para o suplemento agrícola, que se chamava Jornal da Terra, já extinto, diretamente no disquete. Não fizera uma cópia de segurança, nada. Quando entreguei ao diagramador, o disquete não abria, havia dado pau, talvez porque estivesse muito cheio, não sei.

O fato é que estava com passagem comprada para São Paulo. Sairia de Jaú de madrugada, no ônibus da 1h30, em companhia do Joaquim Fernando Paes de Barros, o Kinando. Rumaríamos para a Capital, de onde, ato contínuo, embarcaríamos para Peruíbe.

Já era noite. Havia trabalhado ligeiro, para que houvesse tempo hábil de descansar, arrumar as malas, tomar um banho, antes de seguir viagem. Mas ocorreu aquilo, de o disquete não abrir. Amaldiçoei a informática e principiei a escrever tudo novamente, linha por linha, em ritmo frenético. No fim das contas consegui terminar a tempo.

Hoje, embora de quando em vez ainda tenha meus revezes com esses equipamentos, não há como negar que tudo está mais prático, limpo, ágil e funcional. A comunicação por e-mails, por exemplo, é fantástica. Na verdade era sobre os endereços eletrônicos que pretendia escrever, para contar o caso de um conhecido e de sua pouca intimidade com a internet. Mas acabei redigindo todo esse nariz-de-cera. Conto na próxima postagem.

Bal Masqué


Ela estava linda vestida de melindrosa, um pouco ansiosa, olhar meio triste. Subimos a escada centenária feito crianças. Era o primeiro baile de máscaras dos dois, e tudo o que fazíamos juntos pela primeira vez tinha um sabor especial.
O salão do Jahu Clube está cheio. Parentes e conhecidos brincando ao som de velhas marchinhas, que remetem a um tempo que a maioria não viveu, certamente uma época mais humana e alegre.
O interior do prédio de estilo neoclássico é suntuoso. Estaco a pensar nos bailes e carnavais de antanho naquele cômodo, os homens a fazer leves meneios com as cabeças para as senhorinhas, a orquestra, os pares circundando elegantemente...
O edifício foi inaugurado às 21h30 do dia 12 de outubro de 1917, ao som da orquestra dirigida pelo maestro Heitor Azzi. Depois da inauguração da sede, as administrações passaram a promover uma série de saraus literários, musicais e dançantes.
Na efervescência social da época e em pleno apogeu, o clube também recebeu pessoas conhecidas do cenário político e cultural. Visitaram-no o embaixador italiano Vito Luciani, o ex-governador do Estado de São Paulo Armando Salles e até o escritor Monteiro Lobato.
Agora estamos lá: a melindrosa e o malandro carioca balançando os corpos, procurando nos ambientar com ajuda de bom uísque. Ela se movimenta com graça, ritmada. Os olhos verdes revelam um tanto de meninice, um tanto de assombro, um tanto de esperança e deixam entrever o coração mais nobre que há, sem igual.
As marchinhas se sucedem. O malandro experimenta sensações mistas de encanto, paixão e insanidade. O salão parece mais cheio. Os fantasmas de antanho vieram se somar aos encarnados. Outra dose. Monteiro Lobato acena do outro canto. A vida é estranha mesmo.

sábado, 14 de março de 2009

Ói nóis aqui tra veiz

Sempre tive um problema muito sério em administrar meu tempo. Não adianta. Por mais que planeje, tenha em mente que conseguirei fazer tudo a que me propus, as coisas me escapam pelos dedos.

Prova disso é que há vários dias estou sem fazer uma nova postagem neste blog, embora meu objetivo fosse o de atualizá-lo diariamente. Objetivo soa meio morno. Necessidade. Tenho necessidade visceral em trabalhar as palavras, ainda que os resultados nem sempre saiam a contento.

Já estamos quase às vésperas da Páscoa, mas ainda pretendo escrever algo sobre o carnaval, o bal masqué que ocorreu no Jahu Clube. Peço aos leitores paciência.

domingo, 8 de março de 2009

Lorca

Não sei explicar as razões, mas senti enorme vontade de ler novamente algo de Federico Garcia Lorca e fiquei a navegar por alguns de seus poemas. Separei um em particular, que comungo com vocês.

¡Ay!


El grito deja en el viento
una sombra de ciprés.


(Dejadme en este campo,
llorando).


Todo se ha roto en el mundo.
No queda más que el silencio.


(Dejadme en este campo,
llorando).


El horizonte sin luz
está mordido de hogueras.


(Ya os he dicho que me dejéis
en este campo,
llorando).