Defecando e andando é um dos textos que publiquei em Prosa Fiada e outros goles. Ele trata do caso inusitado de um sujeito que limpou os intestinos sobre um processo judicial, como forma de protesto. O homem havia sido condenado por porte ilegal de arma, mas não se conformava com a decisão. Fiz a cobertura jornalística do ocorrido e não resisti: transformei na crônica que segue:
Defecando e andando
A escatológica insurgência do escriturário Romildo Giachini Filho, que em junho de 2007 defecou sobre um processo judicial nas dependências da 5.ª Vara Criminal de Jaú, é sintomática. Ainda que a ação tipifique ato criminoso, embute um sentido de grande envergadura. Trata-se de um verdadeiro episódio de resistência popular e revela que os brasileiros estamos todos no limite, enfezados crônicos. Se a moda pega, em proporções epidêmicas, e todos resolvermos aliviar os intestinos sobre as desventuras que nos afligem, o País pode tomar um novo rumo. Algo que nem a guerrilha urbana, na época da ditadura, conseguiu.
Nada de revólveres, bombas caseiras ou coquetéis molotov. Vamos armar o povo com Lactopurga! Os protestos podem ganhar, isto é certo, um componente odorífero desagradável, mas de eficácia ímpar. Aos desmandos, ao descaso, à burocracia bancária, forense, regimental, empresarial, ao relógio de ponto, à CPMF, aos salários de fome, aos impostos absurdos, que se arriem as calças! O contribuinte não suporta mais tanta canalhice. E como o voto nem sempre se mostra um instrumento adequado para mudar o establishment, o laxante pode ser a solução definitiva.
Multado injustamente por um verdinho? Faça funcionar o grosso e o delgado! Esperando por mais de três horas pelo atendimento pediátrico no posto de saúde? Proponha uma evacuação intestinal coletiva nos corredores! Atendido de forma arrogante e malcriada por um funcionário público? Mostre a ele o poder do cólon e do reto! Indignado com as altas dos produtos nas prateleiras dos supermercados, com o preço dos combustíveis, com o valor do IPTU e com o famigerado IPVA? Estimule o movimento peristáltico e purgue, proteste!
A bem da verdade, todos temos, em nosso íntimo, um Romildo não manifesto. Mas vivemos tão contidos, a deglutir batráquios, a obtemperar, a suportar desaforos, a refrear atitudes, que acabamos pagando caro por tamanho exercício de paciência. Quem se rebela, por fim, é o organismo. Emoções represadas se transmudam em úlceras, síndromes de pânico, depressões, distúrbios gastrintestinais, nevralgias e até câncer. E como morrer não faz bem a ninguém, exceto ao dono da funerária, é hora de libertar o Romildo, desarrolhá-lo.
Sem violência, de forma pacífica e ordeira, o brasileiro pode e deve mostrar que ainda tem capacidade de se indignar. Alguma linguagem os governantes tem de entender! Depois de o poder público, personificado naquela bocoiola da Marta, recomendar contra a insatisfação que se relaxe e goze, o cidadão pátrio pode aproveitar a onda e extravasar de vez.
Se os protestos isolados não resolverem, pode-se pensar em uma grande caravana, uma incursão civil a Brasília. Mas, por favor, levem papel higiênico, que é para dar um ar politicamente correto à manifestação.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Na Bienal do Livro
A artista plástica Léa D’Ungaro Almeida Prado no lançamento que ganhou sotaque cultural e muitas homenagens ao marido, Zé Renato
Lançamento de Prosa Fiada
O jornalista José Renato de Almeida Prado, de Jaú, lançou e autografou no dia 24 de agosto, na 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, seu livro de crônicas Prosa Fiada e outros goles, editado pela Scortecci Editora.
O livro, com 124 páginas, traz memórias, fatos pitorescos e devaneios do autor, de forma despretensiosa e bem-humorada. As crônicas cobrem um período que vai de 1986 até o presente e mostram que a mais simples história tem de estar sempre registrada.
“No livro há observações afiadas e sutis, reminiscências fascinantes e anedotas admiráveis”, escreveu o jornalista Eduardo Reina, do jornal O Estado de S. Paulo, que prefacia a obra. “Um texto impecável retrata um grande leque de personagens e lugares, sob o ponto de vista de um homem solidário.”
Segundo Almeida Prado, trata-se de um livro com histórias leves, outras nem tanto, mas todas com o único propósito de entreter. “Não tenho a pretensão de convidar ninguém a reflexões profundas acerca de nada”, diz. “São prosas como as que se contam na mesa de um bar.”
Paulistano radicado em Jaú, José Renato de Almeida Prado é jornalista e advogado e há 22 anos exerce a função de repórter, período também dedicado às crônicas, contos, artigos e outros causos.
Prosa Fiada e outros goles será lançado na sexta-feira, dia 17 de outubro, às 20h30, em Jaú, no General Bar, na Avenida Rodolpho Magnani, 613
Serviço:
Prosa Fiada e outros goles, de José Renato de Almeida Prado
Dia 17 de outubro (sexta-feira), a partir das 20h30
Local: General Bar – Avenida Rodolpho Magnani, 613, Jaú/SP
Trechos do livro:
“Na minha adolescência, o ritual de passagem para a vida adulta era menos complicado. Comumente se dava nos lupanares que ainda restavam em Bauru. A não ser que se tivesse uma fimose, era absolutamente indolor. E quando queríamos resgatar alguma prática ancestral, enchíamos o pote e arrumávamos uma briguinha aqui, outra acolá.”
(Da crônica Seres em extinção)
“Elymei era o nome da boneca gigante. Embora considerada antiga para um brinquedo, ainda estava conservada, malgrado as condições de abandono às quais fora submetida. Insistia em dar seu depoimento, mas os humanos pareciam não entendê-la. Repetia incessantemente que era vítima de um lar desestruturado e que sua dona premeditara sua destruição ao atirá-la nas águas barrentas do rio. Fui posta deitada no banco do acompanhante e quando fico na horizontal minhas pálpebras se fecham, relatava. Dormia, quando fui arrebatada! Abri os olhos estremunhada e, quando dei por mim, estava sendo arremessada. Por que não me ouvem?”
O livro, com 124 páginas, traz memórias, fatos pitorescos e devaneios do autor, de forma despretensiosa e bem-humorada. As crônicas cobrem um período que vai de 1986 até o presente e mostram que a mais simples história tem de estar sempre registrada.
“No livro há observações afiadas e sutis, reminiscências fascinantes e anedotas admiráveis”, escreveu o jornalista Eduardo Reina, do jornal O Estado de S. Paulo, que prefacia a obra. “Um texto impecável retrata um grande leque de personagens e lugares, sob o ponto de vista de um homem solidário.”
Segundo Almeida Prado, trata-se de um livro com histórias leves, outras nem tanto, mas todas com o único propósito de entreter. “Não tenho a pretensão de convidar ninguém a reflexões profundas acerca de nada”, diz. “São prosas como as que se contam na mesa de um bar.”
Paulistano radicado em Jaú, José Renato de Almeida Prado é jornalista e advogado e há 22 anos exerce a função de repórter, período também dedicado às crônicas, contos, artigos e outros causos.
Prosa Fiada e outros goles será lançado na sexta-feira, dia 17 de outubro, às 20h30, em Jaú, no General Bar, na Avenida Rodolpho Magnani, 613
Serviço:
Prosa Fiada e outros goles, de José Renato de Almeida Prado
Dia 17 de outubro (sexta-feira), a partir das 20h30
Local: General Bar – Avenida Rodolpho Magnani, 613, Jaú/SP
Trechos do livro:
“Na minha adolescência, o ritual de passagem para a vida adulta era menos complicado. Comumente se dava nos lupanares que ainda restavam em Bauru. A não ser que se tivesse uma fimose, era absolutamente indolor. E quando queríamos resgatar alguma prática ancestral, enchíamos o pote e arrumávamos uma briguinha aqui, outra acolá.”
(Da crônica Seres em extinção)
“Elymei era o nome da boneca gigante. Embora considerada antiga para um brinquedo, ainda estava conservada, malgrado as condições de abandono às quais fora submetida. Insistia em dar seu depoimento, mas os humanos pareciam não entendê-la. Repetia incessantemente que era vítima de um lar desestruturado e que sua dona premeditara sua destruição ao atirá-la nas águas barrentas do rio. Fui posta deitada no banco do acompanhante e quando fico na horizontal minhas pálpebras se fecham, relatava. Dormia, quando fui arrebatada! Abri os olhos estremunhada e, quando dei por mim, estava sendo arremessada. Por que não me ouvem?”
(Da crônica Equívocos)
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