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terça-feira, 11 de agosto de 2009

O sonho

Era um sonho – desconexo como a maioria deles – ainda que não o soubesse, porquanto tudo era verossímil, aquela realidade provável, que bem poderia estar a acontecer.

As imagens, as cores, os cheiros, as falas só se revelam representações soniais quando as pálpebras descerram e, então, os sentidos saem da zona fronteiriça entre o que estava e o que realmente existe ou supomos existir.

Depois, o desdormir a incitar apurações metafísicas e a constatação de que, em verdade, o céu jamais poderia ter matizes tão distintos quanto aqueles que se apresentaram à mente durante o sono, ainda que estivesse lindo.

Era o que parecia um terminal rodoviário, com dezenas de ônibus em suas plataformas a recolher e fazer descer passageiros incessantemente. Aguardava o intermunicipal que me levaria de volta... para onde mesmo?

O veículo chegaria a qualquer momento e eu tinha de embarcar. Seria melhor escrever que tinha de usar o meio de transporte, para evitar a catacrese? Não vem ao caso agora. O fato é que senti súbita vontade de comer um hambúrguer repleto de ketchup e mostarda e rumei à lanchonete, conquanto minha consciência insistisse em gritar que essa volição me faria perder o ônibus. Dei de ombros.
Acomodei-me em uma banqueta, pedi o sanduíche e pus-me a mirar um homem e sua filha, que se achegaram um tanto depois. Quando veio o pedido, entreguei-me a devorá-lo desbragadamente, com os molhos a escorrer pelas mãos. À cada mordida, a certeza de querer estar ali, como se disso dependesse minha felicidade. Nada mais importava. Amassei na mão a passagem e ri. Era um sonho. Desconexo. Como a maioria deles.

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